sábado, 27 de abril de 2013

'Religião não é fonte da moral, mas eliminá-la é temerário', diz primatólogo.

Para alguém que tem se especializado em demonstrar que o ser humano e os demais primatas têm um lado pacífico e bondoso por natureza, Frans de Waal conseguiu comprar briga com muita gente diferente.
Autor de "The Bonobo and the Atheist" ("O Bonobo e o Ateu"), que acaba de sair nos Estados Unidos, o primatólogo holandês-americano provavelmente não agradará muitos religiosos ao argumentar que ninguém precisa de Deus para ser bom.
Seu modelo de virtude? O bonobo (Pan paniscus), um primo-irmão dos chimpanzés conhecido pela capacidade de empatia com membros de sua espécie e de outras, pela sociedade tolerante, sem "guerras", e pelo uso do sexo para resolver conflitos.
Com base nos estudos com grandes macacos e outros mamíferos sociais, como cetáceos e elefantes, De Waal diz que a moralidade não surgiu por meio de argumentos racionais nem graças a leis ditadas por Deus, mas deriva de emoções que compartilhamos com essas espécies.
Bonobos e chimpanzés sabem que é seu dever cuidar de um amigo doente, retribuir um favor ou pedir desculpas.
Por outro lado, o livro é uma crítica aos Novos Ateus, grupo capitaneado pelo britânico Richard Dawkins que tem dado novo impulso ao conflito entre ateísmo e religião desde a última década.
"Eu não consigo entender por que um ateu deveria agir de modo messiânico como eles", diz De Waal, ateu e ex-católico. "O inimigo não é a religião, é o dogmatismo."

Folha - Quem está mais bravo com o sr. depois da publicação do livro?
Frans de Waal - Bem, no caso dos ateus, recebi muitas mensagens de gente que me apoia. É claro que, em certo sentido, estou do lado deles, tanto por também ser ateu quanto por acreditar que a fonte da moralidade não é a religião. O que eu digo no livro é que os Novos Ateus estavam gritando alto demais e que precisam se acalmar um pouco, porque a estratégia deles não é a melhor.


Em seu livro, o sr. faz uma referência ao romance "O Senhor das Moscas", de William Golding, história na qual garotos perdidos numa ilha reinventam vários aspectos da sociedade, inclusive a religião. Mas a religião que eles criam é brutal, com sacrifícios humanos. O sr. acha que a religião nasceu brutal e foi ficando mais humanizada?
Acho que não. Quando olhamos para as sociedades tradicionais de pequena escala, que foram a regra na pré-história, vemos que esse tipo de coisa não está presente entre elas.
É claro que elas tinham crenças sobre o mundo sobrenatural e podiam sacrificar um ou outro animal aos deuses, mas, no geral, eram relativamente benignas.
É só quando as sociedades aumentam de escala que elas começam a se tornar mais agressivas e dogmáticas.


Quando se enfatiza o lado pacífico e ético das sociedades de primatas não humanos e do próprio homem, não há um perigo de fechar os olhos para a faceta violenta dela?
Concordo que, nos meus livros mais recentes, essa ênfase existe. Por outro lado, meu primeiro livro, "Chimpanzee Politics" ["Política Chimpanzé", sem tradução no Brasil], era totalmente focado na violência, na manipulação maquiavélica e em outros aspectos pouco agradáveis da sociedade primata. Mas a questão é que surgiu uma ênfase exagerada nesses aspectos negativos, e as pessoas não estavam ouvindo o outro lado da história.


O sr. acha que encontrar um chimpanzé ou bonobo cara a cara pela primeira vez pode funcionar como uma experiência religiosa ou espiritual?
Eu não chamaria de experiência religiosa (risos), mas é uma experiência que muda a sua percepção da vida.
No livro, conto como a chegada dos primeiros grandes macacos vivos à Europa no final do século 19 despertou reações fortes, em vários casos deixando o público revoltado porque havia essa ideia confortável da separação entre seres humanos e animais. Por outro lado, gente como Darwin viu aquela experiência como algo positivo.


E o sr. sente que essa aversão aos grandes macacos diminuiu hoje?
Sim, e isso é muito interessante. Eu costumo dar palestras em reuniões de sociedades zoológicas de grandes cidades aqui nos Estados Unidos. Tenho certeza de que muitas pessoas ali são religiosas. E esse público é fascinado pelos paralelos e pelas semelhanças entre seres humanos e grandes macacos ou outros animais.
Isso não significa que queiram saber mais sobre a teoria da evolução, mas elas acolhem a conexão entre pessoas e animais.


Na sua nova obra, o sr. defende a ideia de que não se pode simplesmente eliminar a religião da vida humana sem colocar outra coisa no lugar dela. Que outra coisa seria essa?
É preciso reconhecer que os seres humanos têm forte tendência a acreditar em entidades sobrenaturais e a seguir líderes. E o que nós vimos, em especial no caso do comunismo, no qual houve um esforço para eliminar a religião, é que essa tendência acaba sendo preenchida por outro tipo de fé, que se torna tão dogmática quanto a fé religiosa.
Então, o temor que eu tenho é que, se a religião for eliminada, ela seja substituída por algo muito pior. Acho preferível que as religiões sejam adaptadas à sociedade moderna.


Outro argumento do livro é que o menos importante nas religiões é a base factual delas. O mais relevante seria o papel social e emocional dos rituais. Para quem é religioso e se importa com a verdade do que acredita, não é uma visão que pode soar como condescendente ou desonesta?
Pode ser que, para quem é religioso, essa visão trivialize suas crenças. Mas, como biólogo, quando vejo alguma coisa que parece existir em quase todos os grupos de uma espécie, a minha pergunta é: para que serve? Que benefício as pessoas obtêm com isso? Não tenho a intenção de insultar ninguém com esse enfoque.


The Bonobo and the Atheist

editora W.W. Norton & Company
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fonte: Folha de SP de 27/04/13.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ateu acredita em ET ?


A pergunta, a princípio, pode parecer estranha ou absurda afinal, em teoria, a vida extra terrestre nada tem a ver com a vida após a morte.
Mas ambas tem uma coisa em comum: hoje, dependem de fé.
Para quem baseia suas crenças no pensamento científico tanto uma como a outra aguardam comprovação e não passam, hoje, de especulação. São, apenas, possibilidades e jamais houve sobre os temas um único caso comprovado cientificamente.
A sobrevivência à morte de um “corpo astral” sempre foi a base fundamental de todas as religiões, que trocam consolo e esperança por dinheiro.
Milagres, comunicações com o além, reencarnações, não passam de especulação e quase sempre podem ser explicados pela ciência. 
Se as pessoas pudessem escolher seu destino entre o “morreu, acabou” e o “morreu e vai para o céu” não hesitariam e assim fica fácil compreender porque há muito mais religiosos que ateus: a fé oferece perspectiva muito mais agradável.

No caso da vida extraterrestre acontecem processos semelhantes.
A comunidade cientifica internacional converge em direção à idéia de que o processo de evolução que aconteceu na Terra pode ter acontecido em outros pontos do universo.
Afinal, os elementos químicos e as leis da física são, comprovadamente, as mesmas em qualquer estrela, planeta ou nebulosa de qualquer galáxia. Carbono, oxigênio, hélio estão em toda parte, assim como a gravidade, a matéria escura e os processos de fusão nuclear. A luz viaja da mesma forma e na mesma velocidade esteja você aqui ou em uma galáxia há bilhões de anos luz e quem afirma isso não é o papa ou o Edir Macedo e sim a ciência.
No entanto não houve até hoje um único caso de contato extra terrestre que tivesse comprovação cientifica.
Claro, há relatos de abdução, há discos que foram “vistos” por multidões, há inscrições misteriosas em montanhas, há os “deuses astronautas”, o ET de Varginha, o Caso Roswell e tantos outros mas todos, sem qualquer exceção, carecem de uma prova cientifica de que não tenham passado de ilusão, fraude, engano ou má interpretação de um fenômeno natural.
Mas como a ausência de evidência nunca pode ser interpretada como evidência da ausência... o homem continua procurando. 
O mais importante programa cientifico de busca de vida extraterrestre é o SETI (Search for Extra Terrestrial Inteligence) que rastreia os céus 24 hs por dia à procura de um sinal de rádio, de luz ou qualquer outra forma de comunicação que comprovadamente seja emitida por uma fonte inteligente e de forma intencional.
Mas, até agora, nada, nem um único sinalzinho. Se surgiu vida em outros lugares ela ainda não se comunicou conosco. 
Claro, assim como tem gente que vê Jesus na torrada e acredita que um facho de luz seja a mãe de Chico Xavier há também os que acreditam que já fomos visitados por discos voadores mesmo que não haja disso qualquer comprovação (a não ser que você considere programas do Discovery Channel como prova... o que, convenhamos, só alguém muito ingênuo faria).
Quanto à vida após a morte e a existência de um deus criador, sou 100% ateu. Já quanto à existência de vida extra terrestre – inteligente ou não - sou 100% agnóstico.
Desta forma, respondendo ao titulo deste post, eu digo que ateu não acredita em deus mas pode sim perfeitamente acreditar que existam ET´s. Mas permanecemos no aguardo da comprovação pela ciência desta que será a mais importante noticia de todos os tempos: a de que não estamos sós no universo.
Espero viver para isso... até porque, depois que eu morrer... acabou.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O interessante caso dos Pirahãs, um povo sem números, lendas ou deuses. São apenas felizes.

E quem tentou evangeliza-los...saiu ateu.



A tribo dos pirahãs, formada por cerca de 350 indígenas que vivem às margens do Rio Maici, no Amazonas, tornou-se um desafio para a ciência. 
Como muitas tribos da região, eles são caçadores e coletores, mas têm características únicas no que diz respeito à comunicação. Seu idioma desafia todas as teorias sobre como a linguagem humana se desenvolveu nas diferentes culturas. 
Segundo a tese hoje mais aceita sobre o tema, criada por lingüistas como o americano Noam Chomsky, a formação dos idiomas se pauta por uma espécie de gramática universal com regras comuns. O ser humano é dotado de recursos inatos para usar essas regras. 
Isso permite às crianças perceber os significados das palavras e das frases e aos poucos ampliar seu vocabulário. Essa gramática universal faz com que todos os idiomas tenham frases subordinadas, que estariam na base dos raciocínios complexos: "Depois de comer, vou à sua casa". 
O idioma dos pirahãs é o único até hoje identificado no mundo que não tem frases subordinadas, contrariando o conceito de gramática universal. 

Os pirahãs não têm palavras para descrever as cores. Não usam tempos verbais que indiquem ações passadas. Não há entre eles a tradição oral de contar histórias. Tudo é dito no presente. A língua escrita não existe. Os pirahãs não desenham e desconhecem qualquer tipo de arte. Eles são a única sociedade no mundo, segundo avaliação de antropólogos, que não cultiva nenhum mito da criação para explicar sua origem. Para completar, os pirahãs não usam números e não sabem contar - têm apenas palavras para "pouco" e "muito". 
(fonte: Revista Veja)

O mais interessante da história é que esse povo muito original não tem nem jamais teve uma religião. 
Não tem deuses, santos, mitos, lendas, nada.
Simplesmente não se preocupam com isso, vivem o dia de hoje.
E da maneira mais simples e mais natural provam a nós "civilizados" que é perfeitamente possível viver sem deuses.

Um pesquisador e missionário inglês, Daniel Everett, estudou o idioma pirahã, traduziu para ele os evangelhos e tentou catequisa-los.
Foi buscar lã e saiu tosquiado.
Os pirahãs ouviram as estórias bíblicas com atenção e interesse, mas recusaram qualquer conversão. 
Sobre os milagres, perguntaram se Daniel os havia presenciado e riram quando ele respondeu que não, que apenas passava adiante o que havia ouvido de outros que também não haviam presenciado nada.
Para resumir, Daniel Everett hoje é ateu e conta essa história singular em um livro chamado "Dont sleep, there are snakes"

domingo, 21 de abril de 2013

Deus, Einstein e os dados (texto de Marcelo Gleiser).


Talvez o leitor tenha já ouvido falar da famosa frase de Einstein em carta ao físico Max Born, de 4 de dezembro de 1926, popularizada como "Deus não joga dados". Que dados e que Deus eram esses?
Einstein referia-se à física quântica, que explica o comportamento dos átomos e das partículas subatômicas, como elétrons, prótons e fótons, as "partículas de luz".
Os "dados" aqui aludem a probabilidades, ao fato de no mundo quântico ser impossível determinar onde um objeto vai estar. No máximo, podemos calcular a probabilidade de ele ser encontrado aqui ou ali, com esta ou aquela energia.
Isso era bem diferente da física anterior, na qual ao saber a posição e velocidade de um objeto era possível, em princípio, determinar sua posição futura com precisão limitada só pelo instrumento de medida.
Para Einstein, uma física não determinista não podia ser a última palavra na descrição da natureza.
Outra versão, mais abrangente, deveria explicar as probabilidades e os paradoxos do mundo quântico. Aparentemente, Einstein estava equivocado. Deus joga dados sim.
A versão completa da frase de Einstein é um pouco diferente: "A mecânica quântica é certamente impressionante. Mas uma voz interior me diz que não é ainda a coisa real. A teoria diz muito, mas não nos traz mais perto dos segredos do Velho. Eu, pelo menos, estou convencido de que Ele não joga com dados".
O "Velho" aqui é uma figura metafórica representando não o Deus judaico-cristão, mas o espírito da natureza, a essência da realidade.
Para Einstein, a função da ciência é desvendar essa estrutura.
Por outro lado, ele tinha plena consciência de que nossas formulações científicas eram meras aproximações do que realmente ocorre: "Vejo a natureza como uma estrutura magnífica que podemos compreender apenas imperfeitamente e que deveria inspirar em qualquer pessoa com capacidade de reflexão um sentimento de humildade".
O que incomodava Einstein era a interpretação da mecânica quântica, que diferia da sua visão de mundo. Em parte, foi ele mesmo o culpado, ao propor que a luz podia ser interpretada como onda (como todos já sabiam em 1905) ou partícula. Essa dualidade era inusitada.
A coisa piorou quando a equação descrevendo elétrons em torno de núcleos atômicos, a "mecânica ondulatória" que Erwin Schrödinger propôs em 1926, descrevia algo imaterial. Em vez de uma onda normal, a equação descreve uma "função de onda" cuja interpretação, proposta por Born, era muito estranha: o quadrado (para os experts, valor absoluto) da função dava a probabilidade de medirmos a partícula em determinada posição ou com determinada energia.
Ou seja, a equação fundamental da matéria não descrevia matéria! Nesse caso, a essência da natureza não era algo concreto, mas uma abstração matemática. A teoria funcionava, mas sua interpretação era um mistério. Esse era o problema que Einstein tinha com o Deus que joga dados. Até hoje, quando físicos pensam no assunto, não conseguem evitar certa ansiedade, mesmo com o sucesso da física quântica.
(FSP-21/04/2013)

16 ótimas razões para você virar ateu!



1. Você pode ficar com 100% do que ganha.

2. Não precisa ir a missa toda semana, dá para ver uns 25 filmes a mais por ano.

3. Não precisa ajoelhar e contar seus podres para alguém pior.

4. Pode usar pílula e camisinha.

5. As únicas regras a seguir no preparo dos alimentos são as da higiene.

6. Se seu casamento não der certo você pode tentar outra vez, sem culpa.

7. Ao invés de rezar e esperar por ajuda você se esforça mais e consegue as coisas!

8. Como não se preocupa com vidas passadas ou futuras, vive melhor esta.

9. Pode ser bom e justo por opção e não por ter sido ameaçado por deuses e padres.

10. Pode fazer o que quiser no sábado, inclusive ver TV, andar de carro e de elevador.

11. Jejum só na dieta ou para fazer exame de sangue.

12. Seguir leis de hoje e não as escritas há milhares de anos por peregrinos do deserto.

13. As 17hs pode tomar um chá ou café ao invés de procurar a direção de Meca para orar.

14. Você não precisa acreditar em maçã do pecado, cobra que fala, mar que se abre, virgem que dá a luz, anjo que traz recado, morto que ressuscita, mandamentos, reizinhos que levam presentes, estrelinha que mostra o caminho, livro de lendas antigas e mal traduzidas, purgatório, inferno, diabo, pecado, Terra com 5 mil anos de idade, universo feito em 6 dias, santos fajutos, milagres capengas, dilúvio, arca, papa que é eleito pelos homens mas vira santidade, igreja que protege pedófilos, gente que funda uma igreja e vira bispo, penitência, flagelo, terço, abstinências sem sentido, dogmas tolos, deus que tudo sabe mas que não fala com ninguém, batismo, crisma, comunhão, santo graal, crucifixo, água benta, hóstia, imagem de santa que aparece no vidro, Jesus que aparece na torrada, estatueta de santo que chora, gente histérica que reza aos gritos e nem na idéia absurda de 3 deuses que são um só mas são 3.

15. E, por fim, você pode crer livremente na ciência, nas leis da natureza, em teorias embasadas por fatos comprováveis e que não dependem de fé cega em fatos, leis, lendas e textos milenares, de origem duvidosa e superados pela evolução da humanidade.

16. Enfim, um ateu é um ser livre, para pensar e para viver. Como é bom ser ateu!

domingo, 14 de abril de 2013

Porque tanta gente odeia os ateus?


Diz a lenda que no Brasil um ateu assumido teria menos chances de se eleger para um cargo público que uma mulher, pobre, negra e homossexual (uma combinação absoluta de  minorias discriminadas).
A ojeriza pela idéia de ver eleita uma pessoa que não crê em deus vem de preconceitos milenares como "quem não tem deus no coração não tem limites, pode fazer o que quiser".
Ou, um degrau abaixo, "ateus tem pacto com o diabo".

Em teoria ateus são - ou deveriam ser - inofensivos, já que não defendem a crença em outros deuses nem a adesão à religiões concorrentes mas sim a mais e absoluta descrença.
Porque alguém não acreditar em seu deus te ofende ou te incomoda?
Já ouviu falar de algum homem bomba ateu?

Imagens de santinhos, nossas senhoras e jesuses postados aos milhares diariamente na internet não me ofendem, não me incomodam, eu não reclamo disso (apenas ignoro).

Mas quando alguém posta uma mensagem ateista os crentes se revoltam, protestam, exigem respeito, bradam pela liberdade religiosa, esquecendo-se que dela faz parte o direito de não crer.

O blog consciência.blog.br, de Robson de Souza, publica uma análise bem completa e interessante da "ateofobia - uma intolerância gritante mas pouco notada".
O texto relaciona fontes de preconceito e as formas usadas pelas religiões para ofender, atacar e estigmatizar os não crentes. 

Letras de músicas cantadas em igrejas ("Vou dizer, não tem que ser assim, mas se deus não serve pra você, você não serve pra mim...") , frases religiosas impressas nas notas de dinheiro, crucifixos pendurados em paredes de tribunais, intolerância explícita nas escolas, no emprego e até mesmo em casa, na própria família, agressões à laicidade do estado, influência exagerada das igrejas nos rumos do país, tudo isso alimenta e realimenta há séculos a imagem distorcida que as pessoas tem de quem não acredita nos mesmos amigos imaginários que elas.
Vale a pena ler o texto completo, segue o link: Ateofobia.

Na minha opinião o que incomoda mesmo os crentes é que, no fundo,  percebem a total falta de lógica das lendas nas quais suas religiões se baseiam, mas não querem mexer nisso, não querem perceber, analisar, pensar, querem apenas continuar recebendo de suas igrejas aquilo pelo qual pagam: consolo, esperança, apoio e sentido para as suas vidas.
Mesmo que não seja verdade.





sexta-feira, 12 de abril de 2013

Mas afinal, quem Feliciano representa?


O rosário de bobagens proferidas por esse "bispo" não para de crescer.
Já disse que Caetano Veloso fez pacto com o diabo, que os africanos são amaldiçoados e que deus matou John Lennon e os Mamonas por ter se sentido afrontado por suas músicas.
(no caso dos Mamonas foi ótima a pergunta do Jô Soares: mas e o piloto??)
E ele não para, hoje disse que Jesus não é para enfeitar pescoço de homossexual.
(eu acrescentaria: nem de hétero nem de ninguém...)

Feliciano não fala essas coisas de graça e nem está ali a toa, ele pode não representar as pessoas que estão protestando na internet contra sua presença na comissão mas é claro que é fiel representante de alguma parcela da sociedade.
Mas qual?
Seria simples demais afirmar que ele representa "evangélicos" pois esse tipo de generalização inclui correntes de variados tipos e posicionamentos.

Feliciano representa, na verdade, uma das piores e mais malévolas parcelas da sociedade, a dos empresários sem escrúpulos que montam verdadeiras máquinas de explorar moral e financeiramente as pessoas mais humildes. 
Empresas que se travestem de igrejas - assim como charlatões se travestem de bruxos - para vender ilusão na forma de serviços espirituais.
E que por isso mesmo saem ilesos das garras da justiça e do governo pois quando pressionados alegam direito à liberdade religiosa.
É um golpe perfeito: isenção total de tributos e proteção legal, basta ver que todos os donos dessas igrejas são ricos e livres.
Toda a gritaria contra Feliciano o transformou em celebridade e com certeza fará com que seja reeleito com grande crescimento de votos pois muita gente não apenas concorda com as bobagens que ele diz como segue cegamente as orientações interesseiras das "igrejas" que frequentam.
E para as quais entregam, de mão beijada, 10% (ou mais) de seus suados rendimentos, sem se dar conta de que o dinheiro é gasto na compra de mansões e helicópteros.
Em nome de Jesus, claro.
A solução está na educação, quanto maior o nivel de instrução de um povo menor a chance de prosperarem essas redes empresariais "religiosas".
Sem esquecer da luta pela laicidade do estado.

Fica claro porque o nível da educação no Brasil é tão baixo, é pelos mesmos motivos que fazem a corrupção não diminuir ou as obras de infraestrutura atrasarem:
alguém está ganhando muito dinheiro com isso.

Lutar contra essas coisas não é uma luta ateísta mas sim de toda a sociedade.







sábado, 6 de abril de 2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Se não acreditamos em Thor, por que crer no Deus cristão?

Para biólogo conhecido por teoria do 'gene egoísta', não se deve respeitar crenças que vão contra consensos na comunidade científica


Fila dando volta no quarteirão. Parecia estreia de um filme de Hollywood.
Tudo para ver a palestra de Richard Dawkins, 72, talvez o ateu mais famoso do mundo, biólogo, tipo raro de intelectual híbrido que se comunica bem com o grande público e com os eruditos dos centros de pesquisa de ponta.
Dawkins alcançou notoriedade tanto nos círculos acadêmicos dos departamentos de biologia quanto no delicado debate público sobre o papel das religiões no mundo contemporâneo.
Após a publicação do livro "O Gene Egoísta", Dawkins ganhou evidência na academia ao deslocar o foco dos estudos em biologia evolutiva dos grupos e organismos para o estudo dos genes.
Segundo o biólogo, quanto mais parecidas duas espécies, maior a tendência de se comportarem de forma cooperativa -o que explicaria em parte tendências altruístas entre seres geneticamente semelhantes.
Ironicamente, tais pendores altruístas viriam do chamado "egoísmo dos genes", uma tendência biológica das espécies de quererem espalhar seus genes.
Dawkins atingiu o grande público ao atacar a noção de um criador do cosmos onisciente e onipotente.
No livro "O Relojoeiro Cego", Dawkins argumenta que a suposta perfeição da natureza e o aparente design que se observa no mundo podem ser explicados, ainda que parcialmente, por meio da biologia evolutiva.
Com "Deus, um Delírio", o cientista britânico nascido em Nairobi (Quênia) se tornou best-seller, ao ampliar suas críticas às religiões em geral e defender que não há necessidade de se conhecer o pensamento religioso ou ter qualquer conexão com entidades divinas para se viver uma vida moralmente digna e eticamente responsável.
Mais recentemente, o cientista tem-se dedicado a viajar o mundo para debater com autoridades religiosas. Boa parte do material gravado abastece os diversos documentários dos quais o cientista participou.
Figura polêmica, Dawkins tem provocado a admiração da comunidade leiga ao pregar o entusiasmo pelo pensamento livre e não dogmático; e também a ira de muitos líderes religiosos por sua crítica impiedosa ao criacionismo -tese que rejeita a evolução das espécies- e, ao mesmo tempo, sua apologia do ateísmo.
Apesar do pensamento sofisticado, agudo e ferino, Dawkins pareceu bastante áfavel, brincalhão e interessado nas ideias alheias.
Foi no dia seguinte à palestra de Dawkins para mais de 1.500 pessoas numa pequena sala sala da Universidade da Pensilvânia, no mês passado, que esse pop star do ateísmo no mundo concedeu à Folha a entrevista a seguir.
Folha - Deus existe?
Richard Dawkins - Nós não sabemos se fadas existem. Nós não levamos a sério a existência do deus nórdico Thor, ou de Zeus, ou de Dionísio ou de Shiva.
Até que tenhamos sérias evidências de que algum deles existiu ou exista, não perdemos tempo com isso. Por que deveria ser diferente com o Deus cristão ou com o judeu ou com o muçulmano?
Mesmo que alguém concorde com o que o sr. acaba de dizer, há milhares de fiéis pelo mundo. É possível explicar essa enorme propensão à fé?
Há experimentos em psicologia infantil que demonstram que crianças, quando indagadas sobre a existência de uma pedra pontiaguda em um ambiente, preferem a explicação que tenha causa e consequência claras.
Em outras palavras, preferem acreditar que a pedra é pontiaguda para que os animais daquele ambiente possam usá-la para se coçarem.
Não aceitam que a pedra pontiaguda se formou a partir de processos geológicos e da erosão através do vento e da água. Talvez muitos dos fiéis de hoje ainda retenham esta atitude infantil ao pensarem sobre o mundo.
Um outra hipótese é que a propensão à fé seja simplesmente um resquício do medo de se ficar só em um ambiente hostil. Nossos ancestrais viviam sob constante ameaça de serem atacados e mortos por animais selvagens.
Pode ser que nossa necessidade de criar fantasmas e divindades que vão nos punir esteja conectada com esse traço evolutivo presente em nossos primórdios.
O sr. diz que há uma tendência ao silêncio em relação às doutrinas religiosas dos outros, que as pessoas evitam debater sobre suas próprias crenças, e que esse fato é nocivo à sociedade. Não seria necessário simplesmente respeitar as diferentes crenças das pessoas?
Não devemos respeitar crenças que influenciam a vida de crianças e que vão contra conhecimento dado como consenso na comunidade científica.
Uma coisa é uma pessoa dizer que acredita em Papai Noel e manter esta crença dentro de sua família -ainda que eu considere uma pena para os filhos.
Quando algumas pessoas, contudo, começam a ensinar que a Terra tem apenas cerca de 10 mil anos, aí eu acho um absurdo e quero lutar contra isso.
Um novo papa acaba de ser eleito. Ele é argentino. É possível dizer que isso representa um avanço em termos políticos da fé no mundo em desenvolvimento?
Se pensarmos que haverá uma menor centralização política daqueles que determinam o futuro da Igreja Católica, sim, sem dúvida.
No Brasil, a Igreja Católica tem perdido fiéis para outras tradições protestantes. Alguns atribuem tal fenômeno à dinâmica dos rituais católicos, ainda bastante hierarquizados e tradicionais, se comparados às religiões protestantes.
Não conheço bem o contexto brasileiro, mas é possível imaginar que a não participação ativa dos fiéis nas missas católicas é um dos fatores que provavelmente têm contribuído para tal queda.
Explicando melhor, os rituais protestantes nos EUA são como shows, os participantes dançam, cantam, tocam instrumentos.
Suponho que no Brasil as missas ainda tenham um formato bastante tradicional e que provavelmente tenham pouco apelo social para conquistar seguidores jovens.
Em sua obra, o sr. dá ênfase à possibilidade de qualquer um rejeitar crenças religiosas ou vivências espirituais e ainda assim ter uma vida plena e ética. Sem as religiões, onde é que encontraríamos códigos morais?
Suspeito que não encontramos regras morais nos ensinamentos religiosos. Se fosse esse o caso, nossa conduta moral não se alteraria praticamente a cada década. Seria estanque.
Pense que até bem recentemente nós considerávamos a escravidão como algo normal e que também as mulheres não deveriam participar dos processos democráticos.
E quanto ao que não conseguimos explicar? Não vem daí uma das "necessidades" da religião e da crença no "sobrenatural"?
Essa talvez seja uma das explicações que mais me aborrecem para se crer em uma deidade.
Eu gostaria que as pessoas não fossem preguiçosas, covardes e derrotistas o suficiente para dizer: "Eu não consigo explicar, portanto isso deve ser algo sobrenatural". A resposta mais correta e corajosa seria a seguinte: "Eu não sei ainda, mas estou trabalhando para saber".
Acabam de ser divulgados os primeiros resultados das pesquisas sobre índices de felicidade idealizados pelo governo do primeiro-ministro britânico, David Cameron. O sr. já investigou a relação entre religiosidade e felicidade?
Não vi os resultados ainda. Quanto à relação entre religiosidade e felicidade, ainda que eu não tenha estudado o assunto, é possível prever que tal correlação é mais um mito do que um fato.
Os países que apresentam melhores índices de desenvolvimento humano e, em tese, uma melhor condição para a existência da felicidade, são países com o maior número de ateus do mundo.
Seus cidadãos encontram bem-estar, alegria e consolo nas possibilidades sociais, culturais e intelectuais concretamente disponíveis em seus países, não em entes divinos.
    (fonte: Folha de SP de 01/04/2013)