sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Reféns do fanatismo.


É invejável o fervor religioso dos principais candidatos a prefeito de São Paulo. Esses homens pios, indulgentes e generosos causam boa impressão. Juntos, formam uma seleta santidade nesta pecaminosa e desregrada terra Brasilis.
Haja santidade, caros leitores. Haja beija-mão a bispos, pastores, ao clérigo em geral. Um dos candidatos é católico fervoroso e autor de dezenas de livros de autoajuda. Outro tem laços estreitos com uma poderosa igreja neopentecostal. E tudo leva a crer que esse candidato usa o templo e a estrutura dessa igreja. O ideal seria agradar a todos os fiéis num espetacular ato ecumênico. Deus lhes agradeceria, indistintamente. Mas não é bem assim: as disputas inter-religiosas tornam-se cada vez mais acirradas no período pré-eleitoral. Além disso, não há apenas fiéis sob o vasto céu poluído de São Paulo. O que esses candidatos têm a dizer para um número nada desprezível de agnósticos, homens e mulheres que não praticam a fé das três religiões monoteístas nem as dos demais fiéis? O que eles vão dizer aos pecadores sem culpa, que fazem parte de um amplo arco ideológico? Aos libertários e anarquistas radicais, que não são poucos? Como agradar ao mesmo tempo aos milhões de participantes da parada GBTL e aos milhões da Marcha com Jesus? Eis aí um dilema moral. Ou um dilema dos pregadores da moral.
No dia das eleições, será que a maioria do povo vai pensar na devoção religiosa ou nos projetos sociais de cada candidato? Vai pensar em Jesus ou nos princípios éticos e na capacidade administrativa de fulano ou sicrano?
Deus, que em sua infinita piedade é onipresente e onipotente, sabe muito bem como sofrem as paulistanas que moram longe do lugar onde trabalham. São essas mulheres, crentes ou agnósticas, que votam; são elas que não têm onde deixar suas crianças numa creche. Elas e milhões de trabalhadores que, de manhã cedo e no começo da noite, passam horas dentro de um ônibus e de um vagão lotado da CPTM ou do metrô.
A crença ou o sentimento religioso faz parte da esfera íntima de cada pessoa e nada tem a ver com o proselitismo histérico contra o Demônio e suas tentações, ou com curas milagrosas em nome de Jesus. 
Os candidatos deviam parar com essa romaria bajuladora em busca de votos de fiéis e lembrar que o Estado brasileiro é laico. 
Deviam esclarecer seus programas e metas, dizer o que é factível em quatro anos de governo municipal, explicar se há recursos para construir creches, escolas, moradias e postos de saúde, melhorar o transporte público e o saneamento básico. Devem expor com clareza um programa de ação para enfrentar os problemas mais sérios da cidade, mas sem demagogia e proselitismo, sem recorrer a promessas delirantes. Prometer o impraticável é golpe baixo. E já se sabe que a promessa vã é a morte do político.
(Milton Hatoum - Estado de SP de 14/09;/12)

3 comentários:

  1. Eu vivo numa cidade onde sou refém do fanatismo. As pessoas (catolicos e assembleiantes de deus) para quem conto que sou ateu me discriminam de certa forma. Os politicos terminam todos os discursos com "que deus nos abençoe" e meu próprio filho de 2 anos me pede benção com as mãozinhas. Perco meu sono com isto?
    Não, mas me sinto ignorado pela politica e por isto não transferi meu título de Porto Alegre (onde nasci) para Ponta Grossa (onde vivo) - logo não vou votar. Tá não é só por isto, mas é um dos motivos...
    Agora o meu filho... acho que é praga do Fernando kkkk - Brincadeira Fernando

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  2. por algum motivo qualquer eu iria votar no russumano aqui em são paulo, talvez por sua vocação de ajudar consumidores lesados, uma coisa ""legal"".
    mas depois que fiquei sabendo dessa estória de universal do reino de deus, por trás desse candidato, CAI FORA.

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  3. chamouth, que miséria heim!!?? não tem um único candidato laico??
    que chato!!

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