quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Se você é cristão... tem que acreditar também em Adão, Eva, Noé & cia Ltda.


A humanidade - aos trancos e barrancos, eu diria - avança, evolui, descobre, conclui e aprende. O que já foi dogma inatacável no passado (sol girando em torno da terra, por exemplo) hoje é uma idéia risível. Não se sacrificam mais virgens em altar, não endeusamos mais pedras ou animais nem achamos que marcianinhos verdes vão nos atacar.
Na era das viagens interplanetárias, dos avanços da medicina, das comunicações, fica cada vez mais difícil e anacrônico declarar-se crente literal na bíblia, com suas lendas e tradições orais editadas, revistas e adaptadas. É cada vez mais difícil encontrar alguém esclarecido que ainda creia que Caim matou Abel, que Noé com sua família salvaram a fauna terrestre ou que Moisés tenha mesmo aberto o mar vermelho para passar.
Por isso cada vez mais ouvimos que parte da bíblia não deve ser literalmente interpretada, que são “modos de dizer” , “analogias” ou "parábolas".
Com isso pessoas modernas, esclarecidas e plugadas nos avanços da ciência livram-se do vexame que seria admitir que acreditam nessas coisas.
Eu creio em Cristo, dizem. E basta.
Mas, com o perdão da crueldade, não dá para ser assim. Se você é católico, evangélico, enfim, cristão, tem obrigatoriamente que acreditar em tudo isso. Sem escapatória.
Por exemplo: você acredita em homem feito de barro, mulher feita de costela, paraíso, Adão, Eva, maçã do pecado?
Não?
Então não tem como acreditar em um Jesus divino.
Ao invés de acreditar sem pensar vamos pensar antes de acreditar: pela tradição cristã deus encarnou seu próprio filho na terra para “salvar a humanidade”.
Pergunto: salvar do que mesmo?
Se você fizer essa pergunta a 10 católicos eu aposto que 7 ou 8 não saberão responder.
Pois bem, ele veio nos salvar do “pecado original”, que foi cometido por Adão e Eva, no paraíso, ao comerem a maçã proibida.
Adão, primeiro e até então único ser humano, come a maçã proibida e toda a humanidade dali para a frente nascerá pecadora, maculada e destinada ao eterno fogo do inferno, a não ser que seja salva.
Faz algum sentido isso?
Mas, ok, vamos em frente: para nos salvar deus cria um plano genial: encarnar seu filho Jesus na Terra, crescer, pregar suas idéias, formar um grupo de seguidores, enfrentar os fariseus, romanos e sei lá mais quem se colocasse a sua frente.
Até ser traído, preso, espancado e crucificado.
E pronto, estamos todos salvos.
Sabe-se lá porque.
Porque Jesus para nos salvar teria que morrer? Não faria mais sentido que ele como filho de deus fosse forte e poderoso, liderasse uma grande revolução cultural e derrotasse os infiés?
Bem, mas chega-se a uma conclusão simples e objetiva: se você acredita que Jesus seja filho de deus e que tenha ressuscitado, você tem consequentemente que acreditar também em paraíso, Adão, Eva, maçã.
Porque sem isso não há pecado original e Jesus não teria o que fazer aqui na terra. ...
Como queríamos demosntrar: não dá para crer em Jesus sem crer em Adão e Eva e a tal maçã do pecado.
E já que você tem que acreditar em tudo isso aproveite o embalo e acredite também em Noé, pragas do Egito, mar que abre, morto que renasce, virgem que engravida, reizinhos que viajam de camelo seguindo estrelinhas para levar presentes, etc.
Lineu prefere acreditar no Big Bang, na Teoria da Evolução, nos atomos de carbono, oxigênio e hidrogênio, em nanotecnologia e em tantas outras coisas fáceis de testar e comprovar.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Em carta inédita, Albert Einstein ataca Deus.

Eintein foi um dos mais inteligentes seres humanos de todos os tempos, suas descobertas sobre o tempo, o espaço e a origem do universo mudaram a nossa forma de ver e entender o mundo. Para muitos o ateísmo é coisa de maluco... vejam o que diz Einstein sobre deus e as religiões em noticia da Folha de SP de hoje:

Uma carta inédita de Albert Einstein datada de 1954, ano anterior ao de sua morte, traz pela primeira vez críticas contundentes do físico à religião. No manuscrito dirigido a seu amigo filósofo Eric Gutkind, que será leiloada hoje em Londres, o autor das teorias da relatividade retrata as práticas religiosas como "infantis".

"A palavra Deus é para mim nada mais do que expressão e produto da fraqueza humana", escreveu Einstein, para quem a Bíblia seria "uma coleção de lendas honoráveis, ainda que primitivas".

O conteúdo da carta difere de declarações anteriores de Einstein, que, segundo historiadores, nunca havia deixado muito clara a sua visão sobre a religião. Nessa seara, o físico era mais lembrado pela frase "A ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega".

Na carta a Gutkind, porém, Einstein classifica a crença em Deus como "produto da fraqueza humana", e não poupa nem a religião do povo ao qual pertencia. "A religião judaica, como todas as outras religiões, é uma encarnação das superstições mais infantis." Einstein, um sionista que teve papel importante na criação do Estado de Israel, diz a Gutkind que não acredita que os judeus sejam um povo "escolhido".

A carta traz um certo tom de descrença na humanidade e a noção de que o poder corrompe as pessoas. Os judeus, diz, só estariam "protegidos dos piores cânceres por lhes faltar poder".

A casa de leilões Bloomsbury, onde o manuscrito original será vendido, diz estar "100% certa" da autenticidade do documento e que espera conseguir por ele um preço entre US$ 12 mil e US$ 16 mil. O vendedor é um colecionador particular.

Historiadores não costumam retratar Einstein como ateu, mas a imagem pode mudar com a publicação da carta. Sua visão sobre Deus era tida apenas como não-clerical ("Não creio no Deus da teologia que recompensa o bem e pune o mal").

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ateísmo: a forma mais cristã de viver a vida.


Os ateus sofrem grande rejeição no Brasil.
Pesquisas dizem ser a mais alta das rejeições. Por exemplo, jamais um político que se declare ateu seria eleito presidente, mais de 90% das pessoas rejeitam categoricamente a idéia de um presidente assumidamente ateu.
Fernando Henrique Cardoso não vale, ele disfarçou e nunca saiu do armário sagrado.
Soa insano mas as pessoas no Brasil votariam mais confortavelmente em um candidato desonesto do que em um ateu.
E porque será?
Na minha opinião por um raciocínio tão simplista quanto quase inconsciente:
eu sigo as leis de deus, não mato, não roubo. Se alguém não crê em deus, porque faria o mesmo? Porque obedeceria às leis de um deus em que não crê?
Logo, um ateu rouba, mata, estupra e não está nem aí pois para ele não há deus.
Em alguns casos a descrença em um deus criador e ouvidor de preces é confundida com uma aproximação com... o demônio.
É irracional, pois ateísmo inclui descrença em deuses e também em anjos, demônios, alma, espíritos. Mas as pessoas não pensam nisso e acham que alguém que não crê em deus só pode ter coisa com o demônio.
Podemos pensar em outra forma de encarar o assunto.
Será que aqueles que são bons porque deus mandou ou para com isso garantir sua vida eterna são realmente bons?
Esse comportamento poderia ser interpretado como, digamos, meio mercenário: eu te obedeço agora e você me recompensa depois.
Pensemos em alguém que viva uma vida normal, dentro da lei, alguém que poderia ser descrito como uma boa pessoa. Mas ateu.
Ele não rouba, nem mata nem estupra ninguém.
Mas não porque um deus tenha pedido para não fazer essas coisas.
Não porque será recompensado depois.
Não porque tenha sido ameaçado com punições terríveis.
Mas sim porque essa é a única maneira de se viver civilizadamente em sociedade, porque foi a um sistema assim que a evolução humana nos trouxe.
Não matamos para não sermos mortos, não roubamos para não sermos roubados, assim como não passamos no sinal vermelho para podermos passar no verde com tranqüilidade.
São convenções humanas e bem terrestres assim que nos dão condição de conviver com milhões de outras pessoas em um espaço urbano compartilhado e mesmo assim tudo funcionar.
Claro, há crimes, há erros, maldades de todos os tipos.
Mas há leis, não há desordem, as pessoas saem de manhã, vão trabalhar, pagam suas contas, compram casas, a vida anda e tudo funciona.
E não há nada de religioso nisso, na Noruega, onde a maioria da população é ateísta, funciona igual. Na verdade, melhor...
Podemos ser caridosos e ajudar pessoas necessitadas pelo simples fato de nos sentirmos bem, acharmos justo ou necessário.
E não porque alguma divindade tenha nos pedido ou imposto isso.
Assim, trata-se de comportamento puro, natural, no sentido de que somos assim porque nos sentimos bem assim e porque essa é afinal a única forma de vivermos bem todos juntos.
Um ateu não espera recompensa alguma, não faz as coisas para ganhar algo em troca a não ser uma vida livre e feliz.
Agora, não depois da morte.
O cristianismo se baseia nos ensinamentos de Jesus e não é sequer necessário discutir se ele existiu de verdade ou se era mesmo divino, podemos apenas analisar alguns dos ensinamentos cristãos:
Caridade, perdoar, amar, respeitar.
Onde esses sentimentos existem com maior força e pureza: nas pessoas que os sentem e os exercem naturalmente ou naquelas que o fazem esperando em troca uma recompensa?
Há bons e maus ateus e cristãos, claro.
Mas quando alguém é bom porque é... ao invés de porque o ameaçam...é ainda melhor.
E com uma vantagem adicional: ateus não atacam não ateus nem religiosos, ateu não vira homem bomba, não declara guerras santas, não mata em nome de um deus que supostamente só pede amor.
O mundo seria muito melhor sem as religiões.
E os princípios cristãos poderiam ser exercidos em sua forma mais pura, sem hipocrisias, sem dogmas tolos e regras absurdas, sem fisiologias ultrapassadas nem qualquer tipo de exploração econômica da fé.
Ser ateu pode ser a forma mais cristã de se viver a vida, basta que você siga os principais ensinamentos dele e não os de “sua” igreja.
E viva feliz.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

As últimas do criador...

O comediante Danilo Gentili (repórter do CQC) publica em sua engraçada coluna no METRO de hoje, 19 de outubro, algumas pérolas de ninguém menos que... ele, o criador:

"Tem crente que quando entra para a Igreja logo aprende que o futuro adeus pertences..."

"Que tédio, acho que vou esconder alguns ossos de dinossauro hoje."

"Pela última vez: não troco mulheres por costelas, parem de pedir, aquilo foi uma experiência!"

"Chamada na escola em Jerusalem há 2 mil anos: João? Presente. Pedro? Presente. Jesus? Onipresente!"

"O amor cristão dos pastores evangélicos é REAL. "

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cientistas criam réplica do santo sudário usando técnicas medievais.


Cientistas reproduziram o Sudário de Turim, o chamado "Santo Sudário", que teria recoberto Jesus de Nazaré na tumba, e afirmam que o experimento reforça as evidências de que a relíquia é uma obra de arte medieval, não produto de um milagre.

O sudário traz a imagem de um homem crucificado, com rastros do que seria sangue escorrendo de feridas nas mãos e nos pés, e crentes afirmam que se trata da imagem de Jesus gravada nas fibras por algum meio sobrenatural, durante a ressurreição.

Os cientistas reproduziram o sudário usando materiais e métodos que estavam disponíveis no século 14, diz o Comitê Italiano para Verificação de Alegações Paranormais.

O grupo afirma, em nota, que se trata de mais uma evidência de que o sudário é uma falsificação produzida na Idade Média. Em 1988, pesquisadores usaram datação por radiocarbono para determinar que a relíquia havia sido produzida no século 13 ou 14.

Mas muitas pessoas continuaram a acreditar que o sudário possui "características inexplicáveis que não podem ser reproduzidas por mãos humanas", disse o cientista Luigi Garlaschelli, em nota. "O resultado obtido indica claramente que isso poderia ser feito com o uso de materiais baratos e um procedimento simples".

A pesquisa foi financiada pelo comitê e por uma organização italiana de agnósticos e ateus, afirmou.
Garlaschelli, professor de Química da Universidade de Pavia, disse ao jornal La Repubblica que sua equipe usou linho tecido com as mesmas técnicas que as usadas no sudário, e envelhecido artificialmente por aquecimento em um forno e lavagem.

O pano então foi colocado sobre um estudante que usava uma máscara para reproduzir o rosto, e esfregado com um pigmento vermelho muito usado na Idade Média. O processo consumiu uma semana, disse o jornal.

O sudário aparece pela primeira vez na história nas mãos de um cavaleiro francês, em 1360.
De propriedade do Vaticano, o sudário é mantido numa câmara especial da catedral de Turim, e raramente é exibido em público. A última apresentação foi no ano 2000, quando atraiu mais de 1 milhão de visitantes. A próxima está prevista para 2010.

Oficialmente, a Igreja Católica não afirma ou nega a autenticidade da relíquia, mas diz que se trata de um potente símbolo do sofrimento de Jesus.
(a noticia tirei do Estadão... a charge capturei no http://mallmal.blogspot.com/, um blog cheio de idéias, textos e imagens ótimas)

Carta aberta dos ateus ao presidente Lula


Caro presidente,

O senhor chegou ao poder carregado pela bandeira de uma sociedade mais justa e mais inclusiva. O uso da palavra "excluídos" no vocabulário das políticas públicas tem o mérito de nos lembrar que as conquistas de nossa sociedade devem ser estendidas a todos, sem exceção. Sim, devemos incluir os negros, incluir as mulheres, incluir os miseráveis, incluir os homossexuais. Mas, presidente, também é preciso incluir ateus e agnósticos, e todos os demais indivíduos que não têm religião. Infelizmente, diversas declarações pessoais suas, assim como políticas do seu governo, têm deposto em contrário. Ontem mesmo o senhor afirmou que há "muitos" ateus que falam sobre a divindade da mitologia cristã quando estão em perigo. Ora, quando alguém diz "viche", é difícil imaginar que esteja pensando em uma mulher palestina que se alega ter concebido há mais de dois mil anos sem pai biológico. Com o tempo, algumas expressões se cristalizam na língua e perdem toda a referência ao seu significado estrito. Esse é o caso das interjeições que são religiosas em sua raiz, mas há muito estão secularizadas. Se valesse apenas a etimologia, não poderíamos nem falar "caramba" sem tirar as crianças da sala.Sua afirmação é a de quem vê “muitos” ateus como hipócritas ou autocontraditórios, pessoas sem força de convicção que no íntimo não são descrentes. Nós, membros da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, não temos conhecimento desses ateus, e consideramos que essa referência a tantos de nós é ofensiva e preconceituosa. Todos os credos e convicções têm sua generosa parcela de canalhas e incoerentes; utilizar os ateus como exemplo particular dessas características negativas, como se fôssemos mais canalhas e mais incoerentes, é uma acusação grave que afronta a nossa dignidade. E os ateus, presidente, também têm dignidade.Duas semanas atrás, o senhor afirmou que a religião pode manter os jovens longe da violência e delinqüência e que “com mais religião, o mundo seria menos violento e com muito mais paz”. Mas dizer que as pessoas religiosas são menos violentas e conduzem mais à paz é exatamente o mesmo que dizer que as pessoas menos religiosas são mais violentas e conduzem mais à guerra. Então, presidente, segundo o senhor, além de incoerentes e hipócritas, os ateus são criminosos e violentos? Não lhe parece estranho que tantos países tão violentos estejam tão cheios de religião, e tantos países com frações tão altas de ateus tenham baixíssimos índices de criminalidade? Não é curioso que as cadeias brasileiras estejam repletas de cristãos, assim como as páginas dos escândalos políticos? Algumas das pessoas com convicções religiosas mais fortes de que se tem notícia morreram ao lançar aviões contra arranha-céus e se comprazeram ao negar o direito mais básico do divórcio a centenas de milhões de pessoas. Durante séculos.
O mundo realmente tinha mais paz e menos violência quando havia mais religião? O despotismo dos soberanos católicos na Europa medieval e a crueldade dos feitores e senhores de escravos no Brasil-colônia vieram de pessoas religiosas em um mundo amplamente religioso que violentava povos e mentes em nome da religião. O mundo não tinha mais paz nem menos violência naquela época, como o sabem muito bem os negros e índios.
Não eram católicos os generais da ditadura contra a qual o senhor lutou, e o seu exército de torturadores? Não haveria um crucifixo nas paredes do DOPS onde o senhor foi preso? A base dos direitos individuais invioláveis pela qual o senhor tanto lutou são as democracias modernas, seculares e laicas, e não os regimes religiosos. Tanto a geografia como a história dão exemplos claros de que mais religião não traz mais paz nem menos violência.
A prática de diminuir, ofender, desumanizar, descaracterizar e humilhar grupos sociais é antiga e foi utilizada desde sempre para justificar guerras, perseguição e, em uma palavra, exclusão. Presidente, por que é que o senhor exclui a nós, ateus, do rol de indivíduos com moralidade, integridade e valores democráticos? No Brasil, os ateus não têm sequer o direito de saberem quantos são. O Estado do qual eles são cidadãos plenos designa recenseadores para ir até suas casas e lhes perguntar qual é sua religião. Mas se dizem que são ateus ou agnósticos, seus números específicos lhes são negados. Presidente, através de pesquisas particulares sabemos que há milhões de ateus no país, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que publica os números de grupos religiosos que têm apenas algumas dezenas de membros, não nos concede essa mesma deferência. Onde está a inclusão se nos é negado até o direito de auto-conhecimento? Esse profundo desrespeito é um fruto evidente da noção, que o senhor vem pormenorizando com todas as letras, de que os ateus não merecem ser cidadãos plenos. Presidente, queremos aqui dizer para todos: somos cidadãos, e temos direitos. Incluindo o de não sermos vilipendiados em praça pública pelo chefe do nosso Estado, eleito com o voto, também, de muitos ateus, que agora se sentem traídos.Presidente, não podemos deixar de apontar que somente um estado verdadeiramente laico pode trazer liberdade religiosa verdadeira, através da igualdade plena entre religiosos de todos os matizes, assim como entre religiosos e não-religiosos de todos os tipos, incluindo ateus e agnósticos. Infelizmente, seu governo não apenas tem sido leniente com violações históricas da laicidade do Estado brasileiro, como agora espontaneamente introduziu o maior retrocesso imaginável nessa área que foi a assinatura do acordo com a Sé de Roma, escorado na chamada lei geral das religiões.Ambos os documentos constituem atentado flagrante ao art. 19 da Constituição Federal, que veda “relações de dependência ou aliança com cultos religiosos ou igrejas”. E acordos, tanto na linguagem comum como no jargão jurídico, são precisamente isso: relações de aliança. Laicidade, senhor presidente, não é ecumenismo. O acordo com Roma já era grave; estender suas benesses indevidas a outros grupos não diminui a desigualdade, apenas a aumenta. Nós não queremos privilégios: queremos igualdade e o cumprimento estrito da lei, e muitos setores da sociedade, religiosos e laicos, têm exatamente esse mesmo entendimento. Além de violar nossa lei maior, a própria idéia da lei geral das religiões reforça a política estatal de preterir os ateus sempre e em tudo que lhes diz respeito como ateus. Com que direito o Estado que também é nosso pode ser seqüestrado para promover qualquer religião em particular, ou mesmo as religiões em geral? Com que direito os religiosos se apossam do dinheiro dos nossos impostos e do Estado que também é nosso para promover suas crenças particulares? Religião não é, e não pode jamais ser política pública: é opção privada. O Estado pertence a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor, idade, sexo, ideologia ou credo. Nenhum grupo social pode ser discriminado ou privilegiado. Esse é um princípio fundamental da democracia. Isso é um reflexo das leis mais elementares de administração pública, como o princípio da impessoalidade. Caso aquelas leis venham de fato integrar-se ao nosso ordenamento jurídico, os ateus se juntarão a tantos outros grupos que irão ao judiciário para que nossa realidade não volte ao que era antes do século retrasado.Presidente, por tudo isso será que os ateus não merecem inclusão sequer em um pedido de desculpas?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Deus é notícia no Estadão de hoje.

Notícias que li no Estadão de hoje, todas mencionando deus:

“Ela é uma boa filha e muito inteligente. Por favor, deus, ajude-a”
(Imelda, mãe de uma criança soterrada no terremoto na Indonésia)

“Não tenho recurso para abrir outro comércio, era o que eu sabia fazer. Agora vou esperar que deus dê um caminho para mim e minha família”
(Denian Castellani, dono da loja de fogos que explodiu em Sto André matando 2 pessoas.)

“Eu voltava para casa de um culto evangélico quando fui abordado pelo bandido e tudo aconteceu muito rápido”
(James da Silva, desempregado. Ele e o filho de 1 ano foram baleados em assalto, o bebê está em coma)

“Só pode ser coisa de deus”
(Freddy Seton, judeu, 17 anos, ia fazer o exame do Enem que foi cancelado por fraude (os judeus protestavam por serem obrigados a fazer o exame em um sábado).

As pessoas – sempre sem pensar muito – atribuem a deus a obrigação de zelar por cada uma delas a cada minuto.
Dona Imelda não pensa que se deus quisesse realmente salvar sua filhinha ele poderia, por exemplo, ter evitado o terremoto. Se ele é onisciente e onipotente... sabia que ia acontecer e poderia ter evitado. Porque salvaria a menina agora?
Demian por sua vez não pensou muito em deus quando estocou fogos de artifício sem as devidas medidas de segurança mas agora deposita nele suas esperanças. De novo: Demian, se deus estivesse preocupado com você teria evitado a explosão.
O caso de James é ainda mais emblemático: ele foi ao culto evangélico, rezou bastante e na saída foi baleado em um assalto grotesco. Será que deus estava ocupado com os outros casos e não se lembrou de salvar James apesar de todas aquelas orações?
E, por último. Freddy, que acha que deus ajudou uma dupla de larápios a roubar a prova e melar o Enem só para salvar os judeus de terem que faze-la em um sábado.
Eu me pergunto que deus terá feito isso, Jesus ou Jeová.