quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Profecias e previsões: como as pessoas ainda acreditam nessas coisas?


Previsões, profecias, adivinhações e afins poderiam morar todos em uma mesma cesta de lixo, sob o nome de “Chutes”.
Quer virar um profeta? Faça 10 previsões sobre assuntos diversos e aguarde.
Algumas darão certo, outras não. Pegue as que aconteceram de acordo com suas previsões e divulgue, faça com elas o maior alarde, explore-as à exaustão como prova de seus poderes.
Pegue as que não aconteceram e ache explicações, diga que eram apenas tendências , aponte acertos parciais, coloque em dúvida algum resultado, questione a credibilidade dos críticos e aposte na confusão e na dúvida.
E depois as esqueça, mantendo a exploração apenas de suas previsões acertadas.
Se alguém lembrar de seus erros responda que você acertou muito mais que errou, cite seus acertos e siga em frente.
A fórmula é infalível, ela sustenta astrólogos, cartomantes, ciganos, tarólogos e amarradores do amor por milênios.
Sonia Racy, colunista do Estadão, pediu a três “especialistas” em previsões quais seriam as suas para 2013, vejam só o nível das respostas.
O primeiro é Pai Rodney, um babalorixá (uma espécie de líder no candomblé):

P- Os EUA vão resolver seu déficit fiscal e animar o mundo?
R- Obama organizará o país e consolidará bases para o futuro. Embora não seja tarefa fácil, terá visível melhora. Estreitar os laços com a América Latina, especialmente com o Brasil, será necessário.
Vejam essa outra:
P- O Brasil conseguirá melhorar sua infraestrutura para a Copa?
R- Grande esforço terá de ser feito para cumprir os prazos. Muito será apenas maquiado, mas dará certo – do jeitinho brasileiro, é claro.
Como podemos ver Pai Rodney faz previsões bombásticas, surpreendentes. Mais uma dele:
P- Que surpresas climáticas nos reserva o planeta?
R- As chuvas surpreenderão pela quantidade e intensidade. A combinação de água e terra pode ser desastrosa para parte do Brasil.
Ou seja, o babalorixá sabe coisas que ninguém jamais teria imaginado!
O segundo “especialista” em futurologia é o conhecido astrólogo Oscar Quiroga que, estranhamente, recusou-se a responder perguntas sobre o Brasil, mas presenteou-nos com uma pérola gerada por seus poderes impressionantes, vejam:
P - Os Estados Unidos conseguirão resolver seu déficit fiscal e animar o mundo?
R - Os Estados Unidos, para decepção dos que anseiam por sua destruição, continuarão sendo a maior potência econômica do planeta durante 2013 – com abismo fiscal ou sem ele –, pois o que faz desse país uma potência é sua capacidade de digerir as tragédias e delas produzir resultados grandiosos.
Quem precisa de previsões assim?
Para completar o triunvirato temos as respostas de Teruo Yamada, Tarólogo,  começando por uma de suas previsões sobre a Copa do Mundo de 2014:
P - Os estádios ficarão prontos para a Copa das Confederações deste ano?
R - Ficarão, mas com estrutura a desejar. Nada será como inicialmente projetado.
Nossa, estou chocado com a capacidade única demonstrada pelo tarólogo, quem poderia imaginar que isso aconteceria com os estádios?
Como os poderes do tarô são mundiais ele se arrisca também com outra originalíssima previsão, esta sobre a Siria, leiam:

P - Haverá paz na Síria?
R - Não tão cedo. Onde há briga pelo poder, egos em alta e em guerra não há paz.
Gênio! Previu que a paz na Siria vai demorar e que onde se briga pelo poder não há paz, não sei como eu poderia ter chegado a uma ideia dessas sem as cartas do tarô.
Acho incrível que as pessoas ainda acreditem, que jornais publiquem e que esses videntes profissionais sejam de alguma forma levados a sério.
Agora as minhas previsões para 2013: o ano terá 365 dias, todos com 24 horas, o sol nascerá sempre a leste e se porá a oeste, pessoas nascerão, outras morrerão, algumas farão sucesso outras não, governos cairão, a ciência fará descobertas importantes e dia 31 de dezembro á meia noite o ano vai terminar abruptamente, dando lugar a 2014.

Quem escreveu a(s) bíblia(s) ??

Texto de Aldo Pereira na Folha de SP.

Judeus devotos talvez respondam: antigos hebreus inspirados por Deus ou de quem receberam revelações em encontros pessoais. Cristãos devotos acrescentariam que homens do credo judaico reformado por Jesus também contribuíram com outros textos inspirados por Deus.
Elemento comum nessas respostas é a ideia de inspiração divina dos textos bíblicos. Dela deriva toda a autoridade sacra da Bíblia. Bíblias cristãs explicitam na segunda Epístola a Timóteo 3:16: "Toda escritura é inspirada por Deus (...)".
Aí começam as dificuldades.
Alguns arqueólogos, paleógrafos e outros especialistas pigarreiam: Paulo deve ter escrito, sim, sete das treze cartas atribuídas a ele, mas três das outras seis, hum, são de autoria duvidosa --e as demais são decididamente não paulinas, inclusive as duas a Timóteo.
Pareceres como esse indicam ceticismo quanto à autoria dos textos compilados como "livros" da Bíblia.
Em 2 Macabeus 2:13-14 se lê que Neemias (século 5 a.C.) e Judas Macabeus (século 2 a.C.) compilaram textos presumivelmente bíblicos. Mas até hoje a arqueologia não recuperou nenhum texto original desses: apenas cópias de cópias, todas posteriores ao século 15 a.C. Datação de carbono atesta que os mais antigos dos manuscritos do mar Morto, descobertos de 1947 a 1956, são cópias escritas no século 5 a.C.
Nem todo o material do Velho Testamento é originalmente hebraico. A narrativa do dilúvio, por exemplo, reconta episódio da epopeia de Gilgamesh, poema sumério escrito séculos antes de haver menção histórica a hebreus.
Em Gênesis 2:7-22, Deus cria o homem depois de transcorridos os sete dias da criação. Em seguida, cria o Éden e seus rios, ouro e pedras preciosas; só então anestesia o homem para lhe efetuar ressecção duma costela e com esta criar a mulher.
Mas no capítulo anterior, 1:27, Deus cria do pó o homem e a mulher, juntos, no sexto dia da criação. Ocorre pois, nos dois capítulos, clara colagem de documentos diferentes; as duas narrativas provêm de fontes distintas. Outra evidência de montagem são abundantes redundâncias e contradições, quer no mesmo livro, quer de um livro para outro.
A Bíblia cristã já foi bem diferente. Antes do século 13, nenhum livro dela se dividia em capítulos como hoje; numeração dos versículos é invenção do século 16. Ao longo da era cristã, a Bíblia passou por acréscimos de livros e expurgo de outros, tidos como "apócrifos". Este eufemismo conota faltar ao texto a tal inspiração divina. Bíblias protestantes excluem como apócrifos treze livros da Bíblia católica, inclusive os dois Macabeus.
Autenticar inspiração de cada livro abrangeu discórdia furiosa, tortura, hereges à fogueira, até guerras, disputas que remontam a indicações aceitas ou rejeitadas, por votação, em sínodos e concílios (assembleias de bispos). De cada um deles resultava um cânone, coleção de material atestado como autêntico; isto é, de inspiração divina.
Bispos dos primeiros séculos da era cristã montaram cânones segundo arbítrios pessoais, mas decisões colegiadas subsequentes reformariam tais seleções. Teólogos como o próprio Martinho Lutero (1483-1546) teriam preferido excluir, se pudessem, livros como Cântico dos Cânticos, Ester, várias epístolas e Apocalipse. "A história de Jonas é tão monstruosa a ponto de ser absolutamente incrível", escreveu Lutero em "Colóquios Familiares".
Hoje, católicos, protestantes, cristãos ortodoxos e judeus creem na inspiração divina do Pentateuco (ou Torá). Quanto aos demais livros, não há consenso.