segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Astrologia, mas pode chamar de astro-bobagem.

Há tempos estou para postar sobre astrologia, a rainha das pseudo ciências...e hoje me deparei com esse texto excelente publicado no Hype Science por Mustafá Ali Kanso.
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Existe ciência na arte divinatória?



Atendendo, mais uma vez ao questionamento dos leitores, retorno ao tema da futurologia x arte divinatória, em virtude de alguns e-mails, de leitores que são astrólogos, reclamando de meu artigo anterior – afinal astrologia é ciência ou não? E nas demais artes divinatórias – não existe nem um pouco de ciência?
Recordando que em nosso artigo da semana passada discorremos sobre as principais diferenças entre futurologia e arte divinatória:
1. Futurologia é uma ciência cujo foco de estudo é o futuro. Busca antecipar-se ao que pode acontecer no futuro usando para isso a observação, a lógica – e consequentemente – a razão. Vale-se de uma linguagem clara e objetiva sendo geralmente apoiada por índices de probabilidade.
2. As artes divinatórias buscam prever o futuro valendo-se de forças ou poderes sobrenaturais, tendo como base um oráculo e/ou recursos “místicos”, tais como bolas de cristal, cartas de tarô, búzios, tábuas ouija, pêndulos, etc. Sua linguagem é geralmente simbólica, cifrada ou hermética e fundamenta-se na fé de seus praticantes pela respectiva arte.
Tendo o intuito aqui de efetuar as devidas diferenciações, inicio com um conceito bastante elementar de ciência (existe muito mais nessa cornucópia):
Ciência é o conjunto do conhecimento humano dotado de objetividade e universalidade, socialmente adquirido, historicamente acumulado sujeito à comprovação feita pela observação e/ou experimentação e/ou pela evidenciação lógica (leia-se aqui o uso do rigor matemático) – não se admitindo, portanto, argumentos de autoridade.
Um dos exemplos mais gritantes do efeito desastroso que o argumento de autoridade pode provocar é o caso da defesa de Aristóteles e Claudius Ptolomeu ao Geocentrismo. Naquela época, quem ousaria discordar? Por séculos esse equívoco perdurou.
Atualmente todo o conceito novo é examinado exaustivamente pela comunidade científica e posto à prova antes de receber a chancela de “conceito científico” – não importa quem seja o seu autor.
Aliás, quando mais “importante” for o autor do artigo maior é a “gana” com o qual ele será examinado.
Imagine meu prestígio se eu conseguir provar matematicamente (ou pela experimentação ou pela observação de algum fenômeno cósmico) que a Teoria Especial da Gravitação de Einstein apresenta erros formais. Uau! Prêmio Nobel para mim!
Logo: argumento de autoridade não é científico.
Da mesma forma que juízo de valor:
Por exemplo:
A ideia de que a vaca é sagrada não é científica.
O conceito de “sagrado” é juízo de valor – é subjetivo, é argumento de autoridade (alguém muito sábio e/ou muito importante afirmou isso). E também não é universal – com todo o respeito aos praticantes, a vaca é sagrada apenas entre os hindus.
E por aí vai.
Voltando à astrologia:
Mesmo que o mais importante cientista dê seu testemunho de que a astrologia “funciona” e de que seu mapa astral evitou que ele morresse de um derrame, a astrologia não seria classificada como ciência (que meus caros leitores astrólogos me perdoem se estou estragando seu mercado).
Mais uma vez:
A ciência não admite argumentos de autoridade.
Não existem evidências científicas da influência dos astros sobre a vida das pessoas.
Sou sagitariano, logo Júpiter me influenciou no instante em que nasci.
No instante de meu nascimento, o efeito, por exemplo, do campo gravitacional do médico obstetra é muito maior do que o do campo gravitacional de Júpiter. Isso por que o médico estava muito mais perto de mim do que Júpiter. Isso é provado matematicamente pelas leis da gravitação Universal.
Então não é a gravidade que influencia. O que influencia então?
Mesmo que o astrólogo tenha que realizar observações astronômicas complexas, executar cálculos sofisticados – não existem evidências causais entre o “destino” de uma pessoa e as posições relativas dos planetas em “casas” específicas de arranjos meramente visuais de estrelas muitíssimo distantes uma das outras – coisa que chamamos de constelações.
E isso se aplica às demais artes divinatórias.
Quando não são comprovadas as relações causais entre o fenômeno oracular observado (sorteio de cartas de um baralho, movimento de astros, de pêndulos, etc.) e o futuro previsto para o consulente, essas previsões não poderão ser intituladas de científicas.
Simples assim.
Em minhas palestras sobre o Método Científico, muitos de meus alunos questionam esse ceticismo da ciência, como se fosse um empecilho à criatividade e à imaginação.
O ceticismo é uma poderosa ferramenta da ciência desde que aliado à observação criteriosa, à inteligência, à razão e à experimentação. Duvidar por duvidar é tão estéril quanto acreditar por acreditar.
Eu vou duvidar até o instante em que conseguir a comprovação. Se não, vou continuar duvidando.
Evidentemente não vou julgar ninguém pelo fato de acreditar em horóscopo. Cada um tem a liberdade de acreditar no que quiser.
E afinal, emitir juízo de valor pode ser eminentemente humano, mas não é – em absoluto –
científico.