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O filho de Deus nasceu em uma gruta no último mês do primeiro ano da nossa era, em Belém. Foi visitado por três reis magos. Certo? Inteiramente errado!
Os evangelistas não mencionaram a data do nascimento de Jesus Cristo. Lucas informou que pastores estavam em vigília noturna, guardando o rebanho nos campos, atividades de primavera ou verão no hemisfério norte. Bispos dos primeiros séculos fizeram numerosas especulações; alguns aderiram ao 25 ou 28 de março, outros, ao 19 de abril ou ao 20 de maio.
Convém saber que, até o século IV, os cristãos do Ocidente não comemoravam o nascimento de Jesus. Os do Oriente festejavam no dia 6 de janeiro a “manifestação” de Jesus na terra, chamada de “epifania do Senhor”.
No mundo pagão do século III, o culto de Mitra, também chamado de “Sol Invencível”, adquiriu grande importância no mundo romano. O império promovia, todo dia 25 de dezembro, grandes festas e jogos em homenagem ao dies natalis (dia do nascimento) desse deus.
No século seguinte, para se opor à popularidade desse deus pagão, a Igreja resolveu situar em 25 de dezembro o nascimento de Cristo, o novo “Sol Invencível”. Ou seja, tratou-se de uma decisão política, não relacionada a evento histórico em si.
O ano do nascimento de Jesus é também motivo de debates. Mateus diz que Jesus nasceu no reinado de Herodes, o Grande. Ocorre que esse rei da Judeia morreu no ano 4 a.C. Como poderia Cristo ter nascido antes de Cristo? Mais ainda, como se pode falar em ano 1?
No século VI da nossa era, o monge Dionísio Exíguo empreendeu rigorosíssimos cálculos para determinar o início da era cristã e a fixou em 754 após a fundação de Roma. Ele se atrapalhou notoriamente nesses cálculos e, ademais, não lhe ocorreu a necessidade de um ano zero entre -1 e +1.
Belém e a manjedoura também não estão livres de contradições. O evangelista Marcos escreveu que Jesus era natural de Nazaré, versão confirmada por João. Ocorre que Mateus e Lucas se desviaram do relato histórico e preferiram demonstrar que o nascimento de Jesus constituiu a plena realização de antigas profecias. Eles designaram Belém como o local da natividade devido a uma passagem do livro de Miqueias, escrito muitos séculos antes: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel.”
E a manjedoura? Lucas falou em um quarto de albergue no qual ficaram José e Maria. Mateus
evocou uma casa. A “gruta da natividade” foi invenção posterior. Boi e jumento apareceram tardiamente na tradição do Natal, inspirados em versículo do profeta Isaías: “O boi
conhece o seu dono; e o jumento, a manjedoura de seu senhor“.
Por fim, os três reis magos também são objeto de controvérsia. Mateus falou em magos, mas eram sábios vindos do Oriente, atraídos por uma estrela brilhante (talvez um cometa). Ninguém disse quantos eram. Só no século VI, um livro armênio dizia que eram três reis e três presentes oferecidos ao recém-nascido: ouro, incenso e mirra. Eles receberam os nomes de Melquior, Gaspar e Baltazar.
De onde vem o Natal que conhecemos? Não se sabe.
Catherine Salles, Historia Viva.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
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