quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Quem escreveu a(s) bíblia(s) ??

Texto de Aldo Pereira na Folha de SP.

Judeus devotos talvez respondam: antigos hebreus inspirados por Deus ou de quem receberam revelações em encontros pessoais. Cristãos devotos acrescentariam que homens do credo judaico reformado por Jesus também contribuíram com outros textos inspirados por Deus.
Elemento comum nessas respostas é a ideia de inspiração divina dos textos bíblicos. Dela deriva toda a autoridade sacra da Bíblia. Bíblias cristãs explicitam na segunda Epístola a Timóteo 3:16: "Toda escritura é inspirada por Deus (...)".
Aí começam as dificuldades.
Alguns arqueólogos, paleógrafos e outros especialistas pigarreiam: Paulo deve ter escrito, sim, sete das treze cartas atribuídas a ele, mas três das outras seis, hum, são de autoria duvidosa --e as demais são decididamente não paulinas, inclusive as duas a Timóteo.
Pareceres como esse indicam ceticismo quanto à autoria dos textos compilados como "livros" da Bíblia.
Em 2 Macabeus 2:13-14 se lê que Neemias (século 5 a.C.) e Judas Macabeus (século 2 a.C.) compilaram textos presumivelmente bíblicos. Mas até hoje a arqueologia não recuperou nenhum texto original desses: apenas cópias de cópias, todas posteriores ao século 15 a.C. Datação de carbono atesta que os mais antigos dos manuscritos do mar Morto, descobertos de 1947 a 1956, são cópias escritas no século 5 a.C.
Nem todo o material do Velho Testamento é originalmente hebraico. A narrativa do dilúvio, por exemplo, reconta episódio da epopeia de Gilgamesh, poema sumério escrito séculos antes de haver menção histórica a hebreus.
Em Gênesis 2:7-22, Deus cria o homem depois de transcorridos os sete dias da criação. Em seguida, cria o Éden e seus rios, ouro e pedras preciosas; só então anestesia o homem para lhe efetuar ressecção duma costela e com esta criar a mulher.
Mas no capítulo anterior, 1:27, Deus cria do pó o homem e a mulher, juntos, no sexto dia da criação. Ocorre pois, nos dois capítulos, clara colagem de documentos diferentes; as duas narrativas provêm de fontes distintas. Outra evidência de montagem são abundantes redundâncias e contradições, quer no mesmo livro, quer de um livro para outro.
A Bíblia cristã já foi bem diferente. Antes do século 13, nenhum livro dela se dividia em capítulos como hoje; numeração dos versículos é invenção do século 16. Ao longo da era cristã, a Bíblia passou por acréscimos de livros e expurgo de outros, tidos como "apócrifos". Este eufemismo conota faltar ao texto a tal inspiração divina. Bíblias protestantes excluem como apócrifos treze livros da Bíblia católica, inclusive os dois Macabeus.
Autenticar inspiração de cada livro abrangeu discórdia furiosa, tortura, hereges à fogueira, até guerras, disputas que remontam a indicações aceitas ou rejeitadas, por votação, em sínodos e concílios (assembleias de bispos). De cada um deles resultava um cânone, coleção de material atestado como autêntico; isto é, de inspiração divina.
Bispos dos primeiros séculos da era cristã montaram cânones segundo arbítrios pessoais, mas decisões colegiadas subsequentes reformariam tais seleções. Teólogos como o próprio Martinho Lutero (1483-1546) teriam preferido excluir, se pudessem, livros como Cântico dos Cânticos, Ester, várias epístolas e Apocalipse. "A história de Jonas é tão monstruosa a ponto de ser absolutamente incrível", escreveu Lutero em "Colóquios Familiares".
Hoje, católicos, protestantes, cristãos ortodoxos e judeus creem na inspiração divina do Pentateuco (ou Torá). Quanto aos demais livros, não há consenso.

9 comentários:

  1. Cristão: "A bíblia é palavra de deus, é a verdade absoluta e eu tenho que seguir, não tem discussão e foi o próprio senhor que imprimiu tudo na sua gráfica localizada na avenida Louvores, de esquina com a rua salvação aqui no bairro de Nazaré, na cidade de cristãozópolis, no Céu. E depois mandou lá de cima e disse: agora espalhem a minha mensagem que está neste livro e façam quantas cópias forem necessárias, e se quizerem vender e ganha uma graninha, estão autorizados."

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  2. boa! anônimo!
    a europa e milhões de pessoas espalhadas pelo planeta estão se libertando dos grilhões dessas lendas tolas e ultrapassadas por descobertas incessantes nos últimos 150 anos pela ciência humana, até no mundo árabe muitos também estão se libertando do alcorão.

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  3. Onde estão os cristãos defensores da Bíblia? Adoraria ver alguma resposta cristã e coerente para este texto.

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    1. Eles devem estar por aí...lendo a bíblia.

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    2. Peguei pesado, né ? Cristã e coerente ? Na mesma frase ? Sem um "não é", na frente.

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  4. Matérias como essa, da Folha (tinha que ser da "Folha"), podemos encontrar em diversos folhetins anti-cristãos espalhados pelas nossas bancas de jornais Brasil afóra. É um salada só, e tudo para confundir a cabeça, já feita, de vocês. Aposto que vocês não entenderam cinco por cento disso.
    Eu perderia muito tempo aqui mostrando à vocês os muitos erros dessa matéria, mas vou apontar só alguns (por enquanto...):

    1)"Bíblias protestantes excluem como apócrifos treze livros da Bíblia católica, inclusive os dois Macabeus".

    Errado. A bíblia católica contém 73 livros ao todo: 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. A bíblia protestante contém apenas 66 livros: 39 do AT e 27 do NT. Os sete livros que faltam aos protestantes são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 Macabeus e 2 Macabeus. PORTANTO, os protestantes excluem como apócrifos 7 livros católicos, e não 13, como disse o "profundo" pesquisador das coisas cristãs, o nosso amiguinho Aldo Pereira, da Folha.
    Reparem que, no Novo Testamento, que é o principal, pois culmina com a vinda de Jesus, ambos, católicos e protestantes estão 100 % de acordo.

    2)"A Bíblia cristã já foi bem diferente. Antes do século 13, nenhum livro dela se dividia em capítulos como hoje; numeração dos versículos é invenção do século 16".

    E daí ?? Isso prova o quê ? Só prova que ela ficou muito mais fácil de ser lida, estudada e memorizada, enfim, ficou organizada.
    A divisão em capítulos foi feita pelo cardeal Estevão Langton (+1228), e a divisão em versículos pelo frade Santo Pagnino (1528).
    A bíblia toda contém 1.333 capítulos e 35.700 versículos. Agora... o que não dá para entender é o porquê do nosso "profundo" conhecedor e "especialista" em cristianismo, Aldo Pereira, ter incluído isto na sua matéria... huuum... sei não... mas isso me parece montagem, enxerto... não é de autoria do Aldo Pereira.

    3)"Alguns arqueólogos, paleógrafos e outros especialistas PIGARREIAM: Paulo deve ter escrito, sim, sete das treze cartas atribuídas a ele, mas três das outras seis, hum, são de autoria duvidosa --e as demais são decididamente não paulinas, inclusive as duas a Timóteo.
    Pareceres como esse indicam ceticismo quanto à autoria dos textos compilados como "livros" da Bíblia.

    "PIGARREIAM" é ótimo ! Paulo escreveu sete cartas. Certo. Comprovado. Mas "TRÊS DAS OUTRAS SEIS" são de origem duvidosa ??? Deixa ver se entendi: são 13 cartas no total e, dessas treze, só três são de origem duvidosa?? Então quer dizer que sete cartas são comprovadamente escritas pelo próprio apóstolo Paulo, três ainda não se sabe e as outras três foram escritas por outro apóstolo...e daí ? Pode ter sido escrita por um discípulo de Paulo, que andava com Paulo, ou ainda ditada por Paulo.
    No final de algumas cartas Paulo diz: "...A SAUDAÇÃO É DO MEU PRÓPRIO PUNHO". (1 Coríntios 16,21) Também: "VEDE COM QUE LETRAS GRANDES VOS ESCREVO, DE PRÓPRIO PUNHO" (Gálatas 6,11). Isso significa que ele próprio afirma (a própria bíblia afirma) que não escreveu todas as cartas, mas discípulos seus, que ouviam suas pregações, escreveram.
    Eu queria ver a Folha fazendo um texto assim : "Conhecem-se cerca de 5.236 manuscritos (cópias) do texto original grego do Novo Testamento, comprovados como autênticos pelos especialistas. As sete oitavas partes do conteúdo verbal do Novo Testamento não admitem dúvida alguma. A última parte consiste, preliminarmente, em modificações na ordem das palavras ou em variantes sem significação. De fato, as variantes que atingem a substância do texto são tão poucas que podem ser avaliadas em menos da milésima parte do texto (Westcott e Hort - críticos racionalistas ateus do século 19)".
    Seria uma matéria mais completa e honesta... mas eu duvido muito que isto um dia aconteça.



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    1. Não consigo responder, só entendi 5% do que o Fernando falou...puxa, os crentes são tão inteligentes, nós ateus somos burros demais!

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  5. Eu não quis dizer isso, mas quis dizer que, pelo fato de vocês não conhecerem o cristianismo a fundo (e é verdade, você sabe disso), esses jornalistaszinhos "deitam e rolam" fazendo matérias recheadas de meias verdades. Não quis chamar ninguém de burro.

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